Um homem simples que apenas diz a verdade é visto como o perturbador do prazer público. Foge-se dele porque não agrada a ninguém;
foge-se da verdade que ele enuncia, porque é amarga;
foge-se da sinceridade que proclama porque apenas traz frutos selvagens;
tem-se receio dela porque humilha, porque revolta o orgulho que é a mais estimada das paixões, porque é um pintor fiel que nos faz ver quão disformes somos.
Não admira que seja tão rara:
em toda a parte (a sinceridade) é perseguida e proscrita.
Coisa maravilhosa, ela encontra a custo um refúgio no seio da amizade.
Sempre seduzidos pelo mesmo erro, só fazemos amigos para ter pessoas particularmente destinadas a nos agradarem:
a nossa estima resume-se à sua complacência;
o fim dos consentimentos acarreta o fim da amizade.
E quais são esses consentimentos?
O que é que mais nos agrada nos amigos?
São os contínuos elogios que lhes cobramos como tributos.
A que se deve que já não haja verdadeira amizade entre os homens?
Que esse nome não seja mais do que uma armadilha
que empregam com vileza para seduzir?
«É, diz um poeta (Ovídio), porque já não existe sinceridade.»
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