Apesar de
tudo, continuamos amando,
e este
"apesar de tudo" cobre o infinito.
Esta frase
do filósofo Cioran expressa a extensão
dos nossos
obstáculos amorosos.
Apesar de
termos acreditado
na
eternidade dos nossos sentimentos
e depois
descobrirmos que nada mantém-se estável
por muito
tempo, continuamos amando.
Apesar de
termos sofrido noites inteiras
por amores
que não se concretizaram
ou que
foram vagos ou pueris,
continuamos
amando.
Apesar de
termos sido rejeitados,
apesar de
o nosso amor não ter sido suficiente
para
encantar o outro
e fazê-lo
permanecer ao nosso lado,
continuamos
amando.
Apesar de
todos os livros escritos,
todas as
sentenças filosóficas,
todas as
análises terapêuticas
e todos os
exemplos de paixões falidas,
continuamos
amando.
Apesar de
não termos mais 15 anos
e estarmos
numa idade em que os outros acreditam
que o
nosso coração envelheceu,
continuamos
amando.
Apesar de
a pessoa que a gente ama
sentir por
nós um amor de amigo,
um amor
fraterno, um amor camarada
que nada
faz lembrar o amor ardente
que a
gente deseja e sonha,
continuamos
amando.
Apesar de
a gente saber que o amor acaba,
que o amor
talvez nem seja pelo outro,
mas apenas
uma projeção do amor
que a
gente tem por nós mesmos,
continuamos
amando.
Apesar da
falta de grana,
das
desilusões com a política,
do cansaço
no final do dia,
dos
projetos que não foram adiante,
do tempo
que nos falta e do medo que nos sobra,
continuamos
amando.
Apesar da
chuva que não permite o passeio
de mãos
dadas,
do espaço
compartilhado que não permite privacidade,
da
desaprovação dos que nada têm a ver com o assunto,
continuamos
amando.
Infinitamente,
apesar de tudo e todos
e apesar
de nós mesmos, continuamos amando...
Martha Medeiros