CRISTO É A RAZÂO DO NATAL…

Aos pés do presépio, Senhor,

eu coloco em tuas mãos meu coração e

deixo minh´alma lhe falar:

Meu Deus e meu Senhor:

Enquanto lá fora o desespero caminha e a amargura dizima

Eu quero lhe dizer que lhe ofereço o banquete do amor

Eu gostaria Senhor de ser a chuva generosa,

Que caísse na terra porosa e reverdecesse o chão.

Mas, como eu não conseguirei, então eu lhe pedirei

Para ser um copo de água fria,

matando  a sede e a agonia

De quem anda na desesperação.

Eu gostaria de ser como a Via-Láctea de estrelas

Para que as noites da Terra fossem mais belas

Mas se eu não conseguir

Eu lhe quero pedir

Para ser um pirilampo na noite escura, Iluminando a amargura

De quem anda na escuridão.

Eu gostaria de ser

Um jardim de flores, de todas as cores,

Para embelezar a Terra.

Mas, na dor que minh’alma encerra,

Se não puder ser um jardim,

Deixa-me ser uma rosa solitária na fresta da montanha,

Colocando beleza no painel sobre a natureza.

Eu gostaria de ser

A montanha altaneira, que levasse a criatura inteira ao seu modo fanal.

Nunca lograrei, então

Eu lhe rogarei

Para ser uma pedra pavimentando o chão

Por onde marche o herói na conquista da amplidão,

Eu quero ser como a escada que leva o triunfador ao seu fanal

Mas se eu não puder

Aqui eu estou Senhor para ser-lhe o primeiro degrau

Eu gostaria de ser

Um trigal maduro, para repletar de pão a mesa da humanidade.

Mas, é demasiado para mim.

Então,

Eu te peço para ser um grão,

Que caindo no chão, se multiplique num milhão,

E me transforme em pão para a sociedade

Eu gostaria de ser um pomar de frutos maduros

Para atender a estesia da criatura em agonia

Mas eu te venho pedir

Para ser uma árvore com galhos ,

Projetando sombra na estrada para que alguém,

Quando passar de mansinho, pelo meu caminho,

eu lhe possa dizer:

- “Olá, amigo.” ·

E, se ele se voltar para trás  e me inquirir:

- “Quem és tu?” ·

Eu  lhe possa contestar:

- “Sou teu irmão! Dá-me tua mão, sou teu amigo. Irei contigo ”

E lado a lado eu possa dizer:

Senhor, eu gostaria de ser

Artista, esteta, trovador, cantor, musicista, orador,

Para falar da magia, da beleza da Sua glória.

Mas, como nada sou,

Me falta o verbo, me falta a mestria,

Eu então, lhe peço, Senhor,

Para ser o companheiro da criatura deserdada,

Que segue caminhando na estrada da alucinação,

E, dando-lhe a mão de sustento lhe dizer:

“Sou teu irmão, estou contigo.”

Graças, Senhor, porque nasci,

Graças porque creio em Ti,

Pelo seu amor,

Obrigado, Senhor!

Amélia Rodrigues

declamado por Divaldo Pereira Franco